quinta-feira, 8 de julho de 2010

goticos

Por acaso você já viu um pessoal que se veste todo de preto, geralmente maquiado com olhos escuros e pele pálida e que são conhecidos por visitarem cemitérios à noite? Eles são chamados de góticos e costumam vagar pelas grandes metrópoles do Brasil assustando as pessoas mais conservadoras com seu visual pesado e sombrio.

O estilo gótico surgiu na cena pós-punk dos anos 80 com bandas comoJoy Division, The Sisters of Mercy, Bauhaus, Siouxsie and the Banshees,The Cure entre outras. O termo gótico define um estilo arquitetônico medieval de igrejas dos séculos 12 a 15 na Europa. Durante a Idade Média, a invasão de povos bárbaros influenciou a arte européia com imagens de monstros como as gárgulas e os vampiros, por exemplo. Daí os góticos tiraram o gosto pelo sinistro e uniram ao ideal romântico de viver a vida – o sofrimento por amor, o interesse pelo além etc.

Para Javier Muniain, 17, que tem o estranho apelido de "Anjo em Pranto", o gótico é uma cultura. "Não é algo fechado. Cada gótico tem sua idéia do que é ser gótico", diz. Ele mesmo é um integrante desta tribo e explica que os góticos adoram literatura, artes plásticas, música e cinema. Ele quer ser cineasta, estuda teatro e tem uma vida como qualquer outro garoto da sua idade – estuda, namora, freqüenta baladas góticas com os amigos. É claro, que tudo em sua vida está muito ligado à um mundo de trevas. Lembra do Batman? O visual gótico é como o das histórias deste herói – cidades escuras, pessoas atormentadas e um mundo de fantasias que faz a gente ter medo da própria sombra. Segundo Javier, o rótulos são uma limitação e a personalidade da pessoa não é influenciada pelo pensamento gótico, mas ao contrário – pessoas que já tem uma inclinação para gostar de coisas mórbidas é que se identificam com o mundo gótico.

Elen Cristina de Souza, 17, também acredita que o mundo gótico acolhe pessoas que já se sentem "diferentes". "É um estilo especial de viver, uma filosofia diferente, um mundo mais romântico", diz. Elen, que só sai depois das 20 horas, explica o interesse que muitos góticos têm por cemitérios (eles pulam os muros de madrugada e muitas vezes são pegos pela polícia): "É um lugar calmo para refletir sobre a vida onde as pessoas conversam, bebem vinho e, às vezes, fazem amor".

Muitas pessoas acham que os góticos incentivam o suicídio, mas, para Elen, suicidar-se nada tem a ver com ser gótico, mas com ter problemas e querer fugir deles. Ela diz que já pensou em suicídio por causa de uma crise de depressão – doença muito comum entre adolescentes – e não por conta da filosofia de sua tribo. Elen, como a maioria dos góticos de São Paulo, freqüenta o Madame Satã – bar de São Paulo onde todo mundo costuma dançar sozinho virado para a parede como forma de introspecção.

Um lugar ótimo para conhecer gente diferente e encontrar pessoas que pensam como você, é a Internet. Muitos góticos têm blogs e sites o que facilita o encontro e a comunicação entre eles. Ana Lúcia, 20, é uma gótica escritora e fotógrafa que tem dois blogs o Câmara Obscura e o Goth."A Internet é um tremendo espaço para colocar suas idéias e falar sobre cultura", explica Ana. E, além disso, é grátis! Todo mundo pode ter seu site e seu blog e trocar informações e conhecer gente.

Ana não anda sempre vestida "à caráter" - com roupas escuras e maquiagem pesada. Ela explica que teve de se adaptar ao mundo: "No trabalho, por exemplo, não dá para ir vestida assim". Ana estuda jornalismo e já faz fotos no melhor estilo gótico.

Jogos de RPG costumam instigar esse lado fantasioso dos góticos porque assim eles podem viver um personagem, ser alguém diferente. Segundo Ana,esse jogo "abre campo para a imaginação das pessoas".

Parece que para todos os góticos entrevistados, o visual importa bastante, mas ao contrário do que a maioria das pessoas costumam pensar, ele é apenas uma maneira de exteriorizar o que esse pessoal tem dentro de si. Usar roupas escuras, usar maquiagem e agir de um jeito "meio estranho", como diz Ana, é só uma maneira de a pessoa expressar melhor ao mundo quem é de verdade.

Todos eles se tornaram góticos não porque o visual os atraiu, mas porque já se sentiam diferentes e acabaram achando gente que pensava como eles.



Texto original de Ana Cândida

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